ORQUESTRA TÍPICA PIXINGUINHA-DONGA (1928-1929)
A Orquestra Típica Pixinguinha-Donga, um dos vários grupos instrumentais de estúdio dirigidos por Pixinguinha nos anos de 1920 e 1930, realizou 30 gravações na Parlophon, incluídos os acompanhamentos a cantores, no período de novembro de 1928 a 1929 (consideradas as datas de lançamento, já que não há registros da Parlophon sobre a data das gravações).
Responsável pelas primeiras gravações de clássicos de Pixinguinha, como Carinhoso, Lamentos, Desprezado e Gavião calçudo, a Orquestra Típica Pixinguinha-Donga combinava elementos típicos das orquestras de maxixe de finais da década de 1920 com influências variadas de formações instrumentais que circulavam em todas as Américas na época, como a jazz band e as “orquestras típicas” argentinas.
Aliás, o próprio nome “Orquestra Típica Pixinguinha-Donga” parece ter sido escolhido pela gravadora, à revelia de seus componentes, para fazer frente às gravações que nos chegavam do país vizinho, já que, significativamente, nem o próprio Pixinguinha, em seus depoimentos ao Museu da Imagem e do Som na década de 1960, recordava-se desta denominação.
Se o amálgama das influências do maxixe, do jazz band e das “típicas” argentinas se fazem notar, o que se ressalta no conjunto dessas gravações é o gênio do Pixinguinha-arranjador em seus primeiros voos musicais. Partindo das orquestrações convencionais do maxixe carioca (presentes em gravações como Samba enxuto, Vadiagem e Vem meu bem), e absorvendo elementos da música regional nordestina tão em voga no Rio de Janeiro da década de 1920 (ouçam-se as emboladas Onde foi Isabé e Bambo lelê, bem como o cateretê O ema... o ema...), Pixinguinha incorpora novos elementos harmônicos e formais nos arranjos de músicas como Gavião calçudo, Carinhoso e Lamentos – elementos, aliás, pelos quais o compositor será acusado pela imprensa da época de jazzificação.
Hoje é impossível precisar com absoluta certeza os nomes dos componentes da Orquestra Típica Pixinguinha-Donga. Sabemos que, além de Pixinguinha nos arranjos e provavelmente no saxofone, e de Donga no banjo, a orquestra contava com Bonfiglio de Oliveira no trompete. Para além disso, o pesquisador José Silas Xavier cita outros possíveis componentes, sempre com a ressalva de que não há documentação das gravadoras que possibilite confirmação exata: João Batista Paraíso (saxofone), Esmerino Cardoso (trombone), Mozart Corrêa (piano), Alfredo de Alcântara (pandeiro, que recebeu a alcunha de O Pandeirista Infernal) e Vidraça (Augusto Amaral, ganzá). Já os cantores que foram acompanhados pela orquestra são imediatamente identificáveis: Patrício Teixeira, Benício Barbosa, Vicente Paiva, Inácio Loyola e Zambalá Temberlych.