JOÃO DA BAHIANA (João Machado Guedes) – Rio de Janeiro RJ – 17/05/1887 – Rio de Janeiro RJ – 12/01/1974
Percussionista, compositor, cantor e artista plástico, era o caçula dos 12 filhos da doceira Presciliana Maria Constança, baiana natural da cidade de Santo Amaro – daí o apelido de João, “da Bahiana”, para diferenciá-lo de um xará vizinho. Conheceu o samba ainda na infância, nas festas que sua mãe dava no quintal de sua casa, na Rua Senador Pompeu. É nesse ambiente que se aproxima do grande amigo Donga (filho de outra baiana, Tia Amélia) e que começa a tocar pandeiro – instrumento no qual se tornará uma referência, formatando sua batida e tocando em inúmeras gravações. Já a amizade com Pixinguinha data de 1911, quando se conhecem no rancho Filhas das Jardineiras.
Entre os admiradores ilustres de sua arte estava o senador e general Pinheiro Machado, que certa vez, em 1908, ao saber que João havia tido o pandeiro tomado pela polícia, não só encomendou um novo instrumento para ele, como fez uma dedicatória no couro: “Com a minha admiração, ao João da Bahiana. Senador Pinheiro Machado”. De posse do novo instrumento, o músico passou a escapar ileso das averiguações policiais que, naquela época, costumavam levar os sambistas para a prisão, “por vadiagem”. João, no entanto, era trabalhador – e não só como ritmista de orquestras de emissoras de rádio, como a Mayrink Veiga e a Nacional.
Seu emprego na estiva do Cais do Porto (onde trabalhou de 1920 a 49) o impediu de viajar com os Oito Batutas a Paris (1922) e Buenos Aires (1922-23), mas não de participar das apresentações e gravações com os diversos conjuntos liderados por Pixinguinha, como o Grupo da Guarda Velha, a Orquestra Típica Pixinguinha-Donga e os Diabos do Céu, entre outros. Também participou das gravações capitaneadas pelo maestro Leopold Stokowski a bordo do navio Uruguay, em agosto de 1940, cantando Caboclo do mato (Getúlio Marinho) e Que querê (sua, em parceria com Donga e Pixinguinha), como se pode ouvir no álbum Native Brazilian Music, lançado pela Columbia norte-americana.
Também ao lado de Pixinguinha e Donga, foi uma das atrações das duas edições do Festival da Velha Guarda (realizadas em São Paulo, em 1954 e 55) e de trabalhos que resultaram desta empreitada (todos em 1955), como os discos lançados pela gravadora Sinter (A Velha Guarda e O carnaval da Velha Guarda) e o espetáculo O samba nasce no coração, produzido por Zilco Ribeiro na boate Casablanca, no bairro carioca da Urca. Mais adiante, em 57, João divide com o babalorixá pernambucano Sussu o LP Batuques e pontos de macumba, que sai pela Odeon.
Pela mesma gravadora saiu, em 1968, outro LP que trazia na capa o nome de João da Bahiana: Gente da antiga, produção de Hermínio Bello de Carvalho, com gravações de João ao lado de Clementina de Jesus e Pixinguinha. No repertório, ouve-se a voz do sambista interpretando o lundu Yaô (de Pixinguinha e Gastão Viana), o ponto Que querê (dele com Pixinguinha e Donga) e os sambas Cabide de molambo e Batuque na cozinha (ambos de João da Bahiana, sem parceria). A década de 1960 traria outros momentos marcantes na trajetória de João da Bahiana, como o depoimento que gravou no Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, no dia 24 de agosto de 1966, abrindo a histórica série de depoimentos que dura até os dias atuais. Também em 66, ele participa do filme Saravah, do francês Pierre Barouh, no qual – ao lado de Pixinguinha – aparece tocando prato e faca e dançando o miudinho.
Já em 1972, é personagem central do documentário de curta-metragem Conversa de botequim (com João da Bahiana), de Luiz Carlos Lacerda, no qual aparece tocando pandeiro, caminhando pelas ruas do Rio e conversando no Bar Gouveia com os inseparáveis Pixinguinha e Donga – com os quais formava o que Martinho da Vila chama de “Santíssima Trindade da Música Popular Brasileira”.
Morava no Retiro dos Artistas quando faleceu, aos 86 anos.