DONGA (Ernesto Joaquim Maria dos Santos) – Rio de Janeiro RJ – 05/04/1889 – Rio de Janeiro RJ – 25/08/1974
Filho de Tia Amélia, uma das quituteiras baianas da região da Praça Onze, era compositor e violonista, chorão e sambista, grande amigo e parceiro de Pixinguinha, de quem se aproximou no rancho Filhas das Jardineiras, em 1911, ano da iniciação profissional de Pixinguinha. Já no carnaval de 1914, lá estão os dois juntos novamente no Grupo do Caxangá, cujos integrantes assumem nomes citados na letra da embolada Caboca de Caxangá (João Pernambuco e Catullo da Paixão Cearense): enquanto Pixinguinha é Chico Dunga, Donga vira Zé Vicente. Nos três dias de desfile, o grupo saiu cantando a onda do momento, ou seja: cocos e emboladas.
Outro marco na trajetória de Donga é o dia 27 de novembro de 1916, quando ele registra como composição sua – em parceria com o jornalista Mauro de Almeida – o samba amaxixado Pelo telefone, que será o grande sucesso do carnaval de 17 e entrará para a história como a primeira música classificada como samba (nesse caso, samba carnavalesco) a fazer sucesso. Na verdade, tratava-se de uma música que, como tantas outras na época, surgiu durante uma festa na casa da quituteira Hilária Batista de Almeida (a famosa Tia Ciata), tendo sido composta coletivamente pelos presentes. Um desses presentes seria o compositor Sinhô, que alfineta Donga e sua turma com o maxixe Quem são eles?, sendo prontamente contra-atacado com Já te digo, de Pixinguinha e China.
Donga e Pixinguinha estão juntos novamente em abril de 1919, quando se dá a primeira formação do conjunto Oito Batutas, criado para tocar na sala de espera do Cine Palais e assim batizado pelo gerente da casa, Isaac Frankel. A bordo dos Batutas, os amigos estarão juntos também nas viagens do conjunto pelo interior do Brasil (1919 a 21) e também nas famosas temporadas em Paris (1922) e Buenos Aires (1922-23). Uma breve cisão nos Batutas, em 1923, resulta na criação dos Oito Cotubas, conjunto rival encabeçado por Donga, acompanhado de Nelson Alves e Sebastião Cirino, entre outros.
A parceria com o velho amigo logo se restabelece e o ano de 1928 registra as primeiras gravações da Orquestra Típica Pixinguinha-Donga (às vezes chamada também de Orquestra Típica Donga-Pixinguinha) na Parlophon, que seguirá lançando discos do conjunto ao longo dos anos 30. O início dessa mesma década registra também o começo das atividades do Grupo da Guarda Velha, que grava na Victor tendo em sua formação Pixinguinha, Donga e o também inseparável João da Bahiana.
Os três participam juntos das gravações que são realizadas em 1940, a bordo do navio Uruguay, capitaneadas pelo maestro norte-americano Leopold Stokowski. No álbum Native Brazilian music, que resulta dessas gravações e sai nos Estados Unidos pela Columbia, Donga é o compositor com mais músicas gravadas: são dele Macumba de Oxossi, Macumba de Iansã (ambas com Zé Espinguela), Ranchinho desfeito (com Castro e Souza), Seu Mané Luís (com Cícero de Almeida), Pelo telefone (com Mauro de Almeida) e Que querê (com Pixinguinha e João da Bahiana).
Também parceiros de Pixinguinha na composição Patrão, prenda seu gado, Donga e João da Bahiana estarão presentes em outros momentos importantes na trajetória de nosso personagem. Como nas duas edições do badalado Festival da Velha Guarda (realizados em 1954 e 55, em São Paulo), nos discos de 10 polegadas da Velha Guarda (lançados pelo selo Sinter), no show O samba nasce do coração (produzido por Zilco Ribeiro na boate carioca Casablanca) e nas tardes boêmias no bar Gouveia (no Centro Rio), onde a amizade será exercitada pelo trio numa mesa cativa, sempre abastecida com doses de uísque e boas memórias.
Faleceu em 25 de agosto de 1974, pouco depois dos amigos e parceiros (Pixinguinha em fevereiro de 1973, João em janeiro de 74), aos 85 anos.