CÍCERO DE ALMEIDA – Alagoinhas BA – ? – Rio de Janeiro RJ – ?
Cantor, compositor, violeiro e “um dos melhores improvisadores do sertão da Bahia” (como é definido pelo Correio da Manhã, em 10/10/1926), era conhecido também pelo nome artístico de Bahiano – mesmo apelido do famoso intérprete de Pelo telefone, que se chamava Manuel Pedro dos Santos (1870-1944) e era natural de Santo Amaro da Purificação. Já Cícero começou a se destacar no cenário musical em meados da década de 1920, como cantor e compositor de toadas sertanejas, além de autor de versos publicados semanalmente no já citado Correio da Manhã. É nas páginas deste periódico que troca farpas com Sinhô, que lhe dedica o poema O intrujão (“Não sejas intrumetido / Aonde não és chamado...”) e é rebatido com Sinhô estrilô!: “Seu Zé Barbosa / Trovadô e pianêro / Também poeta graxêro / Cunhicido no lugá / Elle diz que é poeta / E rei do samba / Este cara de caçamba / Canela de sabiá...”
No fim da década de 1920 aparecem as primeiras parcerias com Pixinguinha, nas quais Cícero atua como letrista: o samba Festa de branco (gravado por Francisco Alves em 1928, na Odeon, com acompanhamento da Orquestra Pan American do Cassino Copacabana), o partido-alto Samba de fato (gravado por Patrício Teixeira e Trio TBT, em 1932, na Victor, com acompanhamento do Choro Victor), e dois sambas gravados pela cantora Carmen Barbosa, em 1935, na Columbia: Por você fiz o que pude e Você é bamba, ambos com acompanhamento do Conjunto Regional da PRD-2.
Nenhum desses sambas teve maior sucesso e repercussão do que Gavião calçudo, música de Pixinguinha com letra de Cícero de Almeida gravada pela primeira vez por Patrício Teixeira, em 1929, na Odeon, com acompanhamento de violões e piano. O português de roça dos versos de Cícero (como nos poemas que publicava no jornal) faz que o samba seja mencionado no Correio da Manhã como “samba sertanejo” (05/02/1929) ou até “toada sertaneja” (26/01/29). Ainda nesta virada entre as décadas de 1920 e 30, os nomes de Cícero e Pixinguinha aparecem juntos na imprensa por conta das apresentações que fazem no rádio (nas rádios Club, Philips e Sociedade) e na Festa da Penha (nos domingos de outubro).
Fora da parceria com Pixinguinha, o maior sucesso de Cícero de Almeida é Seu Mané Luiz – samba em parceria com Donga, lançado em disco por Benício Barbosa e H. Chaves, em 1928, na Odeon. Também com Donga são os sambas Tire o meu nome do meio (gravado por Francisco Alves em 1928, na Odeon) e Se você quiser (gravado por Helena e João Barreto em 1932, na Parlophon). Entre suas composições sem parceiro, destacam-se também três sambas gravados pelo cantor Mário Reis na Odeon – Sorriso falso (1929), Não dou confiança ao azar (1930) e Risoleta (1930) – e outro do repertório de Sílvio Caldas: Samba de reúna (gravado em 1931, na Victor).
Cícero de Almeida também é lembrado como um dos pioneiros da música religiosa afro-brasileira na indústria fonográfica: sua composição Orobô, gravada por Gastão Lobo em março de 1930 na Odeon, é a primeira identificada no selo de um disco como “macumba”. Já em novembro de 1932, foi a vez de o ponto Aruê de Ganga (também de Cícero de Almeida) sair em disco, novamente pela Odeon, em gravação de Mulatinho com acompanhamento de Gente do Amor. Mulatinho foi o primeiro nome artístico de Moreira da Silva e Gente do Amor era o conjunto do compositor Getúlio Marinho da Silva – que era conhecido pelo apelido de Amor.