ARNALDO GUINLE – Rio de Janeiro RJ – 02/03/1884 – Rio de Janeiro RJ – 26/08/1963
Membro de uma das famílias mais abastadas do Brasil entre as últimas décadas do século 19 e as primeiras do século 20, foi responsável por empreendimentos fundamentais no Rio de Janeiro das décadas de 1910 a 50, sobretudo nos esportes e nas artes. Da primeira categoria destacam-se sua atuação como dirigente do Fluminense Football Club, que presidiu por dois mandatos (de 1916 a 31 e de 1943 a 45) e cujo estádio – o Estádio das Laranjeiras – foi construído com seus recursos, em 1919, sendo então o maior do Brasil. Arnaldo Guinle foi também o primeiro presidente da Confederação Brasileira de Desportos (a CBD), de 1916 a 20.
Já no campo artístico, destacam-se os recursos que destinou – juntamente com o irmão Carlos Guinle (1889-1956) – para as viagens e estadas do maestro Heitor Villa-Lobos em Paris (em 1923 e 26-27) e sua proximidade com os Oito Batutas, que inúmeras vezes se apresentou nos saraus que promovia em sua casa. Pois foi com o suporte financeiro de Arnaldo Guinle que o conjunto de Pixinguinha, Donga e cia. foi incumbido de pesquisar e recolher gêneros musicais brasileiros em duas viagens expedicionárias: uma em 1919 (pelo interior de São Paulo e Minas Gerais) e outra em 1921 (em cidades da Bahia e de Pernambuco). Segundo Donga, em depoimento ao Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, a empreitada foi concebida por Guinle com seu secretário, o jornalista Floresta de Miranda, e o escritor Coelho Neto.
Foi também com o apoio financeiro do milionário carioca que se deu a famosa e badalada temporada dos Batutas em Paris, entre fevereiro e agosto de 1922. Segundo o jornalista Sérgio Cabral (em Pixinguinha, vida e obra), a ideia da viagem surgiu numa noite em que Arnaldo Guinle se divertia no bar/restaurante Assírius, ouvindo a música dos Batutas e vendo os passos de Duque. O mesmo livro informa que, durante a estada em Paris, Pixinguinha foi indagado por Guinle se sabia tocar saxofone e, diante da resposta positiva (“Eu já conhecia a escala e sabia que era quase igual à da flauta”), recebeu de Guinle o instrumento de presente.
Outra contribuição de Arnaldo Guinle no mundo das artes seria dada à Orquestra Sinfônica Brasileira, que em 1941 recebeu do magnata um imóvel para realizar seus ensaios (Avenida Rio Branco, nº 135, no Centro do Rio) e mais 24 instrumentos importados dos Estados Unidos.
A origem da fortuna de Arnaldo Guinle remonta ao tempo de seu pai, o empresário gaúcho Eduardo Palassin Guinle (1846-1912), que conheceu a prosperidade inicialmente como proprietário de um armazém de importados no Centro do Rio de Janeiro (Aux Tuleries, inaugurado em 1870). No entanto, o empreendimento que fez de Guinle um dos maiores magnatas do país foi o Porto de Santos (1888), construído e explorado por ele, em parceria com o também gaúcho Cândido Gaffrée.
Dos sete filhos de Eduardo Guinle (todos frutos de seu casamento com Guilhermina Coutinho da Silva), outros foram responsáveis por empreendimentos importantes, como o primogênito Eduardo Guinle (1878-1941), responsável pela construção do Palácio Laranjeiras (1913), Octávio Guinle (1886-1968), que realizou construção do Copacabana Palace Hotel (1923), e Guilherme Guinle (1882-1960), que liderou a campanha para a construção do Hospital Gaffrée e Guinle (1929) e a implantação – como membro do governo Vargas – da Companhia Siderúrgica Nacional (1941).