ALMIRANTE (Henrique Foréis Domingues) – Rio de Janeiro RJ – 19/02/1908 – Rio de Janeiro RJ – 22/12/1980
Iniciou-se na música em 1928, como cantor e pandeirista do conjunto Flor do Tempo, que daria origem ao Bando de Tangarás – formado por ele ao lado dos também iniciantes Noel Rosa, João de Barro, Alvinho e Henrique Brito. Com eles, realizou suas primeiras gravações como intérprete, entre elas a do samba Na Pavuna (de sua autoria, em parceria com o violoncelista Homero Dornelas), grande sucesso no carnaval de 1930, tendo entrado para a história como primeira gravação realizada com instrumentos de percussão do samba, como o pandeiro, o tamborim, a cuíca e o surdo. Por essa época, já atendia por Almirante – apelido que recebeu enquanto servia à Reserva Naval, como soldado, pela aparência que, num desfile oficial, fez um popular acreditar que fosse “o almirante”.
Outros grandes sucessos de Almirante como intérprete foram O orvalho vem caindo (Noel Rosa e Kid Pepe), História do Brasil (Lamartine Babo) e Deixa a Lua sossegada (João de Barro e Alberto Ribeiro), entre outros sucessos da década de 1930 arranjados por Pixinguinha e gravados pelos Diabos do Céu. Nessa mesma época, foram muitas as apresentações de Almirante acompanhado por Pixinguinha – como uma temporada na Rádio Record de São Paulo (1930) e a noite em que a gravadora Victor promoveu seus lançamentos para o carnaval de 32, na sede do Fluminense Football Club, onde o Grupo da Guarda Velha acompanhou Almirante e Carmen Miranda, entre outros cantores.
Além da carreira artística, outra faceta de sucesso na trajetória de Almirante foi sua atuação como radialista. Entre os seus programas de maior sucesso está O pessoal da Velha Guarda, idealizado, escrito e apresentado por ele entre 1947 e 52, na Rádio Tupi. No programa, Pixinguinha – de volta ao rádio após um afastamento que durava desde o início dos anos 40 – atuava como diretor musical, arranjador (dos números apresentado pela Orquestra do Pessoal da Velha Guarda) e instrumentista, apresentando-se em dueto com Benedicto Lacerda.
Outra iniciativa de sucesso encabeçada por Almirante foi o Festival da Velha Guarda, série de eventos idealizada por ele – numa conversa de bar com o jornalista Flávio Porto e a cantora Aracy de Almeida – e realizada como parte das comemorações pelo quarto centenário da cidade de São Paulo, em 1954. Aberta no dia do aniversário de Pixinguinha (23 de abril), com um programa sobre ele apresentado por Almirante na Rádio Record, a série foi marcada por shows concorridos que reuniram Pixinguinha, Benedicto Lacerda, Donga, João da Bahiana, Patrício Teixeira e outros músicos “da Velha Guarda” em locais como o Clubinho (como era conhecido o Clube dos Artistas e Amigos das Artes) e o Parque do Ibirapuera – inaugurado naquele ano. O sucesso daqueles eventos (que eram transmitidos pelas emissoras do grupo Record) levou à realização de uma segunda edição, nos mesmos moldes, em 1955.
O sucesso inspirou também a gravadora Sinter a reunir aqueles músicos em estúdio para gravar o repertório “da Velha Guarda” com novos arranjos de Pixinguinha: resultam daí os discos de 10 polegadas A Velha Guarda e O carnaval da Velha Guarda, ambos lançados em 1955. No primeiro deles, Almirante participa cantando Patrão, prenda seu gado (de Pixinguinha com Donga e João da Bahiana), Essa nega qué me dá e Me leva, me leva, Seu Rafael (ambos de Caninha). No segundo, Almirante interpreta Pelo telefone (Donga e Mauro de Almeida), Gavião calçudo (Pixinguinha e Cícero de Almeida) e Cristo nasceu na Bahia (Sebastião Cirino e Duque).