Catálogo de Obras Pixinguinha


por Pedro Aragão e José Silas Xavier
Um dos nomes mais importantes da música brasileira no século XX, Pixinguinha teve vasta atuação como compositor, arranjador e instrumentista durante praticamente seis décadas – de 1910 até o início da década de 1970, data de suas últimas gravações comerciais. Paradoxalmente, sua vasta produção como compositor não foi alvo, até hoje, de um catálogo crítico, feito sob critérios musicológicos acurados e com consulta rigorosa às fontes documentais.
O presente catálogo é uma primeira tentativa neste sentido e é resultado de uma pesquisa iniciada em 2009, onde foram consultados dezenas de arquivos e fontes documentais diversas, e reunidas centenas de partituras manuscritas e editadas, além de gravações originais.  Procuramos estabelecer um texto para cada música listada e relacionar todas as partituras e gravações originais disponíveis para cada composição. A tarefa foi dificultada pela própria natureza informal do processo de criação de Pixinguinha: sabemos que ele compunha espontaneamente em festas, rodas de choro com amigos, batizados e outras ocasiões. Parte desta produção foi preservada do esquecimento graças ao trabalho de músicos seus contemporâneos, que registraram estas obras em partituras hoje guardadas em arquivos públicos ou privados.
Por outro lado, todas as partituras que compõem atualmente o Acervo Pixinguinha, sob a guarda do Instituto Moreira Salles, foram alvo de criteriosa revisão no que diz respeito à autoria. Conforme se verificou, muitas partituras que não continham originalmente qualquer indicação neste sentido receberam – depois da morte de Pixinguinha e em caligrafia diferente da usada na notação musical – inscrições com atribuições de autoria. Desta forma, uma quantidade significativa de partituras passou a ser atribuída a Pixinguinha sem qualquer critério musicológico que embasasse tais decisões. Através de um trabalho minucioso de comparação destas partituras com cópias das mesmas encontradas em outros acervos, foi possível reestabelecer-se a verdadeira autoria de muitas das músicas até hoje erroneamente atribuídas a Pixinguinha.
Dada a complexidade e o caráter plural da obra de Pixinguinha, consideramos este catálogo como um primeiro estágio – ainda que importante – para o estabelecimento de um inventário crítico de suas composições. Todas as críticas e sugestões de aprimoramento por parte de pesquisadores, colecionadores, músicos e aficionados serão bem-vindas neste sentido.

CRITÉRIOS DE CATALOGAÇÃO DAS OBRAS DE PIXINGUINHA
O trabalho de catalogação das obras seguiu os seguintes critérios em relação à atribuição de autoria:
Músicas com autoria de Pixinguinha comprovada
Neste grupo encontram-se músicas comprovadamente de autoria de Pixinguinha. A comprovação se dá pelos seguintes fatores: a) presença de manuscrito autógrafo; b) presença de partituras manuscritas atribuídas a Pixinguinha por copistas seus contemporâneos, que lhe eram bastante próximos e, como tal, podem ser considerados fontes confiáveis (como é o caso de Candinho Silva, Arnaldo Corrêa e Frederico de Jesus, entre outros); c) presença de partitura editada ainda em vida de Pixinguinha; d) presença de gravação realizada ainda em vida de Pixinguinha.

Músicas que comprovadamente não são de Pixinguinha
Neste grupo encontram-se músicas que foram ao longo dos anos atribuídas a Pixinguinha, mas que comprovadamente são de outros autores. A comprovação se dá por dois fatores: a) descoberta de partituras manuscritas – muitas delas ainda do século XIX ou do início do século XX –  ou editadas que comprovam autoria de outros que não Pixinguinha; e b) descoberta de gravações fonográficas que comprovam autoria de outros que não Pixinguinha – é o caso, por exemplo, do tango "La brisa", gravado como se fosse de Pixinguinha e que, através de cotejos de gravações, se comprova ser de Francisco Canaro.

Músicas em que a autoria de Pixinguinha não pode ser confirmada
Neste grupo encontram-se músicas que foram atribuídas a Pixinguinha mas há fatores que permitem questionar essa atribuição – ainda que não haja comprovação, escrita ou gravada, da real autoria das mesmas. Estes fatores são: a) inexistência de partitura manuscrita de Pixinguinha; b) inexistência de partituras manuscritas de copistas contemporâneos de Pixinguinha atribuindo a música a ele;  c) o fato de não constar atribuição de autoria realizada pelo copista original: a atribuição de autoria de Pixinguinha ter sido feita com caligrafia diferente do copista original, sendo normalmente aposta em uma ocasião muito posterior à escrita da música; c) o fato de a atribuição de autoria pelo copista original ter sido rasurada e substituída pelo nome de Pixinguinha em caligrafia diferente da original; d) músicas em que se verifica a existência de dois ou mais manuscritos de copistas contemporâneos de Pixinguinha, cada um atribuindo a música a autores diferentes, um dos quais Pixinguinha.

Músicas extraviadas, incompletas ou inexistentes
Neste grupo encontram-se: a) músicas gravadas e que não chegaram a ser lançadas (informações que constam do livro de registros da gravadora Victor); b) músicas das quais foram encontradas apenas acompanhamentos escritos para violão e não a parte de melodia; c) músicas com melodia incompleta; d) músicas citadas em fontes documentais diversas (reportagens, depoimentos, livros, catálogos de gravadoras e editoras, etc.) das quais não foram encontradas partitura ou gravações.

FONTES DE PESQUISA
1) Acervos
Acervo Pixinguinha/IMS
Composto por mais de oito mil partituras e centenas de documentos ligados ao compositor (fotos, recortes de jornal, objetos pessoais, dentre outros), o Acervo Pixinguinha encontra-se sob a guarda do Instituto Moreira Salles desde 2000, tendo sido definitivamente adquirido em 2015. Segundo depoimento de Fernando Vianna ao pesquisador Pedro Aragão, foi somente a partir da década de 1940 que Pixinguinha começou a sistematizar seu acervo, inicialmente guardando as partituras em um baú. A partir da década de 1960, estimulado por seu filho Alfredinho (Alfredo da Rocha Vianna Neto), Pixinguinha passa o material para um arquivo de metal, que o acompanhará em suas duas últimas residências. Após sua morte, o acervo passou a ser guardado por Alfredinho, que foi o responsável por sua catalogação em envelopes numerados. A coleção de partituras compreende centenas de arranjos manuscritos por Pixinguinha, partituras manuscritas por outros chorões como Cândido Pereira da Silva, Arnaldo Corrêa, Frederico de Jesus, dentre outros, bem como partituras editadas. Sob guarda do IMS, a coleção de partituras foi alvo de uma criteriosa revisão musicológica que serviu de base para o estabelecimento do presente Catálogo de Obras de Pixinguinha.

Acervo Jacob do Bandolim/MIS-RJ
Jacob Pick Bittencourt (1918-1969) – ou mais popularmente Jacob do Bandolim – iniciou sua carreira como bandolinista na década de 1930, fazendo participações esporádicas em programas de rádio, mas só começou a gravar comercialmente em 1947. Como instrumentista e compositor trilhou uma carreira genial, deixando dezenas de clássicos na história da música popular e elevando o bandolim a um novo patamar em termos de interpretação e sonoridade. Se suas atividades nestes campos o tornaram um dos mais importantes nomes do choro, existe ainda uma faceta de sua atividade profissional que é frequentemente relegada a segundo plano: a de pesquisador e musicólogo. Já em 1930, Jacob inicia suas atividades como pesquisador, reunindo partituras de choro de diversas fontes, trabalho que ganha novo fôlego a partir da década de 1940 graças à influência de Almirante, sua grande referência na pesquisa musical, como deixou registrado em diversos depoimentos. Após sua morte, em 1969, seu acervo foi comprado pela empresa Souza Cruz e doado ao Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro. O Acervo Jacob do Bandolim é uma das mais ricas fontes de documentação sobre o choro, com cerca de seis mil partituras e centenas de documentos sobre o gênero. A coleção de partituras reúne diversas coleções de chorões da velha guarda por ele preservados, tais como Cândido Pereira da Silva, Quintiliano Pinto, Manuel Pedro do Nascimento, Patrocínio Gomes, dentre outros. Como admirador fanático de Pixinguinha e de sua obra, Jacob naturalmente se esmerou em coletar e preservar o maior número possível de composições de seu mestre, o que faz com que o Acervo Jacob do Bandolim seja uma das mais importantes fontes de pesquisa para a constituição do presente Catálogo de Obras.

Acervo Casa do Choro
O Acervo Casa do Choro compreende cerca de 15.000 partituras, boa parte delas disponibilizadas online no site www.casadochoro.com.br. Sua mais importante coleção é o “Inventário do Repertório do Choro”, fruto do trabalho desenvolvido pelos pesquisadores e violonistas Mauricio Carrilho e Anna Paes, que reúne cópias de importantes acervos de choro como os cadernos de Frederico de Jesus – flautista e chorão da velha guarda – e o acervo do violonista Donga, dentre vários outros. O Acervo da Casa do Choro engloba ainda a coleção intitulada “Retiro da Velha Guarda”, parte do espólio de partituras de antigos chorões coligidos pelo clarinetista Juvenal Peixoto e doado por este ao bandolinista Pedro Amorim.

Acervo Jupiaçara Xavier/MIS-RJ
Jupiaçara Xavier foi flautista da velha guarda, tendo muito provavelmente nascido por volta de 1860, já que em 1944 escreveu uma carta ao radialista Almirante dizendo-se um octogenário. No livro “O Choro – reminiscências dos chorões antigos”, escrito pelo carteiro Alexandre Gonçalves Pinto em 1936 e uma das mais importantes referências históricas sobre o gênero, Jupiaçara é descrito da seguinte forma: “ Flauta de outros e deste tempo para orgulho meu e de seus amigos [...] Jupiaçara conheceu todos os chorões d'aquelle tempo que muito os aprecia e que ainda hoje tem grandes recordações. Conserva na sua linda vivenda os retratos de quase todos os grandes flautistas acima mencionados, pois é uma reliquia que d'alli não se retira por modo algum”. No acervo Almirante existe uma carta do próprio Jupiaçara ao radialista, afirmando ter em seu poder “10 cadernos de músicas de choros: belas polcas, mazurcas, valsas, schottischs, quadrilhas e outros gêneros de músicas”. Os cadernos de Jupiaçara encontram-se hoje incorporados ao Acervo Almirante no MIS-RJ e se constituem como uma das mais importantes referências do repertório do choro do século XIX e das primeiras décadas do século XX.

Acervo Nirez (Miguel Ângelo de Azevedo)
Uma das maiores autoridades em discos 78 rpm no Brasil, coautor da Discografia Brasileira em 78 rpm, publicada pela FUNARTE em 1982, Miguel Ângelo Nirez é também um dos maiores colecionadores de discos no país. Desde 2015 vem trabalhando em parceria com o Instituto Moreira Salles no desenvolvimento de uma plataforma digital que disponibilizará para audição online cerca de 45.000 gravações em 78 rpm e todas as informações reunidas sobre elas. Seu acervo foi fundamental para o estabelecimento deste Catálogo de Obras, já que há muitos casos de músicas de Pixinguinha que sobreviveram somente graças ao disco gravado, não havendo partituras manuscritas ou editadas que possam ser tomadas como referência.

Acervo José Silas Xavier/Bide
Uma das maiores autoridades nacionais em Pixinguinha, o pesquisador José Silas Xavier detém em seu poder vasta documentação sobre a vida e a obra do autor de Carinhoso. Dentre estes documentos encontra-se uma coleção de centenas de partituras, aqui reunidas sob o título de “Acervo JSX-BIDE”, uma vez que parte significativa desta coleção provém do arquivo particular de Alcebíades Moreira da Costa, o Bide, flautista da velha guarda e amigo pessoal de Pixinguinha. O acervo engloba ainda as partituras de Honório Cavaquinho, outro músico que conviveu intimamente com Pixinguinha nas primeiras décadas do século XX.

2) Copistas
Quintiliano Pinto
Sobre o flautista Quintiliano Pinto, temos muito poucas informações biográficas. Era irmão de Alexandre Gonçalves Pinto (por alcunha “O Animal”), autor do livro “O Choro, reminiscências dos chorões antigos” (1936), a maior referência sobre o choro do período de 1870 a 1930. Quintiliano é assim descrito pelo “Animal”: “tocou em muitos bailes, serenatas e festas, e tinha muito gosto pela música [...] tocava todas as músicas dos velhos e novos flautas [flautistas]”. Carteiro como o irmão, Quintiliano deixou centenas de partituras manuscritas com repertório dos “antigos flautas” (como Callado, Viriato, Saturnino) e “novos”, dentre os quais Pixinguinha (sempre nomeado por Quintiliano como “A. Vianna”). Com caligrafia um pouco canhestra, escrevendo quase sempre na terceira oitava (como de praxe entre os flautistas da velha guarda), Quintiliano deixou doze manuscritos de músicas de Pixinguinha, alguns deles datados de 1917 (“Luiz tocando”), 1918 (“O Baú do Raul”, “Repentino” e a polca “Recordações”) e 1919 (“Triangular”, nome original do famoso choro “Naquele tempo”). Embora não saibamos a data exata de sua morte, ele já havia “entregado a alma ao criador” em 1936, conforme nos conta seu irmão Alexandre – o que nos dá o indício de que todos os choros manuscritos de Pixinguinha manuscritos por ele, ainda quando não datados, são anteriores a esta data.

“Triangular” (“Naquele tempo”), de Pixinguinha, em manuscrito de Quintiliano Pinto datado de 17/05/1919 [no canto esquerdo da página há uma observação datilografada por Jacob do Bandolim, chamando atenção para o fato de que este choro já existia em 1919] (Acervo Jacob do Bandolim/MIS-RJ, JB_PMH_1094)

Cândido Pereira da Silva (Candinho)
Nascido em 1879 no Rio de Janeiro, Cândido Pereira da Silva foi aluno do célebre Colégio dos Meninos Desvalidos, em Vila Isabel, instituição que abrigou e formou diversos músicos como Albertino Pimentel, Romeu Silva, entre outros. Na juventude, integrou a banda de música da Fábrica de Tecidos Confiança, também em Vila Isabel, onde fez contatos com outros músicos de choro como Pedro Galdino (autor da célebre polca "Flausina"), Eurico Batista, entre outros. Foi um dos primeiros músicos de choro a gravar discos comerciais nas décadas de 1910 e 1920, em diversas formações instrumentais, sendo a mais importante delas o Grupo Carioca, com o qual gravou músicas que depois se tornariam clássicos do gênero, como “Saudações”, de Otávio Dias Moreno e “O Nó”, de sua própria autoria. A partir de 1933, ingressou como trombonista na Orquestra do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, onde permaneceu até 1951, quando se aposentou. Além de suas atividades como instrumentista foi um prolífico compositor e copista: não é exagero dizer que boa parte do repertório do choro de final do século XIX e das primeiras décadas do século XX chegou aos dias atuais graças à sua escrita. É possível encontrar centenas de manuscritos feitos por ele no Acervo Pixinguinha/IMS e no Acervo Jacob do Bandolim/MIS-RJ. Dono de uma escrita clara e acurada, Candinho é um dos mais confiáveis copistas de sua época, visto que suas partituras contêm muito poucos erros de notas e de informações sobre autoria. Amigo pessoal de Pixinguinha, foram localizadas nada menos do que 89 partituras manuscritas de Candinho dedicadas à obra do autor de Carinhoso.

Partitura do choro “Abraçando Jacaré”, de Pixinguinha, por Candinho (Acervo Jacob do Bandolim/MIS-RJ, JB_PMH_0843)

Arnaldo Corrêa
“Arnaldo Corrêa faleceu a 28 de julho de 1949 às sete e um quarto e sepultou-se a 29 no Cemitério do Caju às 9 horas (sepultura 69892)”. Esta anotação, feita por Cândido Pereira da Silva em um caderno preservado no Acervo Jacob do Bandolim/MIS-RJ é a única informação biográfica que temos sobre o chorão Arnaldo Corrêa. Dono de uma caligrafia muito clara e precisa, deixou centenas de manuscritos dispersos hoje por diferentes acervos de choro no Rio de Janeiro, dentre os quais o Acervo Pixinguinha/IMS e o Acervo Jacob do Bandolim/MIS-RJ. Ao contrário de Candinho e Quintiliano, Arnaldo Corrêa escreve sempre na terceira oitava, o que faz supor que ele tocasse bandolim ou outro instrumento que não a flauta. Suas partituras são um modelo de acuidade pelo cuidado com que transcrevia as melodias de diversos autores. Foram encontrados nada menos do que 88 manuscritos de músicas de Pixinguinha feitos por Arnaldo Corrêa, o mais antigo deles datado de 08/12/1915 (a música “One step”).

Partitura da música “One step”, de Pixinguinha, em manuscrito de Arnaldo Corrêa datado de 08/12/1915 (Acervo Jacob do Bandolim/MIS-RJ, JB_PMH_0231)

Frederico de Jesus
Flautista e compositor, Frederico de Jesus foi professor de português do Colégio Militar, conforme depoimento de Lígia Santos, filha de Donga, à pesquisadora Anna Paes. Deixou centenas de partituras manuscritas que são hoje referência para a reconstituição de obras de compositores como Anacleto de Medeiros, Mário Álvares, Irineu de Almeida, Viriato, e, é claro, Pixinguinha. Com uma caligrafia que, de tão precisa, por vezes parece ter sido impressa e não manuscrita, suas cópias primam por grande esmero e capricho, sendo fontes muitos confiáveis para a elaboração do presente catálogo. Após sua morte, seu acervo foi incorporado à coleção de partituras de Donga. Foram encontrados 22 manuscritos de Frederico de Jesus com obras de Pixinguinha: para além de clássicos como “Sofres porque queres” e “Os oito batutas”, Frederico nos legou algumas músicas inéditas, só encontradas graças a suas cópias: “Storino Magoado”, “Teresópolis debaixo d’água” e “Sempre falando” são alguns exemplos.

Partitura manuscrita de “Sempre falando”, de Pixinguinha, pelo copista Frederico de Jesus (Acervo Pixinguinha/IMS, PX_571_001)

Jacob do Bandolim
Mais do que um simples copista, Jacob do Bandolim pode ser considerado o primeiro pesquisador e musicólogo do choro. As milhares de partituras encontradas em seu acervo são repletas de anotações onde o bandolinista relaciona fontes, descreve diferenças entre várias versões das mesmas músicas, discute questões de autoria, gênero, dentre outras. Para além das anotações em partituras de diversos copistas, Jacob deixou em seu acervo centenas de partituras manuscritas por ele mesmo, catalogadas sob a rubrica PMJ (“Partituras Manuscritas por Jacob”). Sendo um apaixonado pela obra de Pixinguinha, é natural que tenha deixado um número considerável de cópias de músicas de seu mestre: foram encontrados 82 manuscritos de Jacob com músicas de Pixinguinha, dentre elas algumas que permanecem inéditas até hoje como “Enjeitada” e “Saudades de Cafundá”.

Partitura de “Displicente”, de Pixinguinha, em manuscrito de Jacob do Bandolim (Acervo Jacob do Bandolim/MIS-RJ, JB_PMH_0838)

Manuel Pedro do Nascimento
Clarinetista e frequentador do “Retiro da Velha Guarda” – reuniões de chorões da velha guarda realizadas em Jacarepaguá até a década de 1960 – Manuel Pedro do Nascimento deixou centenas de partituras manuscritas com as obras de seus autores prediletos. O bandolinista Déo Rian chegou a conhecê-lo, quando frequentou ainda jovem o “Retiro”. Em depoimento ao pesquisador Pedro Aragão, ele afirma: “Eu conheci o Manuel Pedro do Nascimento na roda do 'Retiro da Velha Guarda', em Jacarepaguá, ele tocava clarinete. Mas já tocava tremendo, naquela época devia estar com uns setenta e tal, quase oitenta anos. Então ele tocava tremendo, já estava tremendo o lábio. Mas lia ‘pra caramba’. Só tocava lendo. Botava o caderno na frente e sai de perto, os violões que se virem...”. Os cadernos de Manuel Pedro do Nascimento estão hoje incorporados ao Acervo Jacob do Bandolim/MIS-RJ, mas há dezenas de cópias de suas partituras no Acervo Pixinguinha/IMS. Foram encontrados ao todo 67 manuscritos de músicas de Pixinguinha feitos por Manuel Pedro, o mais antigo datado de 1929, mas a maior parte da coleção compreende as décadas de 1950 e 1960.

“Hermengarda”, choro de Pixinguinha manuscrito por Manuel Pedro do Nascimento, datado de 29/05/1939 (Acervo Jacob do Bandolim/MIS-RJ, JB_PMH_1437)

Joaquim A. Fernandez
Não foram encontrados até o momento dados biográficos do copista Joaquim A. Fernandez. Ao contrário de outros copistas como Candinho e Arnaldo Corrêa, cujos manuscritos podem ser encontrados em diversos acervos de choro do Rio de Janeiro, os manuscritos de Joaquim A. Fernandez só são encontrados no Acervo Pixinguinha/IMS. Dono de uma caligrafia bastante irregular, seus manuscritos devem ser consultados com cuidado, pois apresentam diversos erros em vários aspectos melódicos, rítmicos e também em suas atribuições de títulos e autoria. Para além disso, muitas das partituras por ele deixadas sem identificação de autor foram indevidamente creditadas a Pixinguinha por terceiros. A maior parte dos manuscritos de Joaquim A. Fernandez é datada da década de 1940.

Manuscrito de Joaquim A. Fernandez para o choro “Vagando”, de Pixinguinha (Acervo Pixinguinha/IMS, PX_251_002)

Patrocínio Gomes
O bandolinista Patrocínio Gomes, autor do choro “Pardal embriagado”, deixou vários cadernos manuscritos e centenas de partituras avulsas com repertório que abrange dezenas de compositores de choro. Suas partituras, a maior parte datada da década de 1940, estão hoje incorporadas ao Acervo Jacob do Bandolim/MIS-RJ.  Foram encontrados 40 manuscritos de Patrocínio Gomes com obras de Pixinguinha, em sua maioria um repertório de clássicos como “Proezas de Solon”, “Descendo a serra” e “Pagão”.

Partitura do choro “Abraçando Jacaré”, de Pixinguinha, em manuscrito de Patrocínio Gomes (Acervo Jacob do Bandolim/MIS-RJ, JB_PMH_0016)

Mário Peixoto
Não existem dados biográficos sobre Mário Peixoto, que nos deixou alguns dos mais antigos manuscritos de músicas de Pixinguinha, encontrados no acervo do cavaquinhista Honório de Mattos (o “Honório Cavaquinho”), hoje incorporado ao acervo do pesquisador José Silas Xavier. Foram encontrados quatro manuscritos de obras de Pixinguinha por Mário Peixoto: “Hermengarda”, datado de 1918, “Triangular” (nome original do choro “Naquele Tempo”), “Sabiá”, datado de 1919, e “Samba”, música até hoje inédita, datada de 1924.

Partitura da polca “Hermengarda”, de Pixinguinha, em manuscrito de Mário Peixoto datado de 28/04/1918 (Acervo Casa do Choro, ICC_IC_4213)

3) Livros e outras fontes documentais

  • Filho de Ogum Bexiguento. Autores: Marília Barbosa e Arthur de Oliveira. Editora: MEC/Funarte. Ano de publicação: 1979
    Esta é uma das mais importantes referências sobre o estudo da vida e obra de Pixinguinha. Para além da biografia, os autores apresentam uma listagem de obras inéditas do compositor, provavelmente feita a partir de consulta ao seu acervo de partituras, naquela ocasião sob os cuidados Alfredo Vianna Neto. Esta listagem foi referência fundamental para o estabelecimento do presente catálogo: muitas vezes foi possível, através de comparação com partituras de outros acervos, se estabelecer a real autoria de algumas destas músicas, que efetivamente não eram de Pixinguinha.



  • Pixinguinha, vida e obra. Autor: Sérgio Cabral. Editora: MEC/Funarte. Ano de publicação: 1978
    Primeira biografia sobre o compositor a ser publicada, esta obra permanece como referência fundamental para todos aqueles que se interessam por Pixinguinha. Várias das informações contidas no presente catálogo tiveram este livro como base – particularmente no que se refere às composições de Pixinguinha da década de 1960, muito bem documentadas por Sérgio Cabral.



  • O Lendário Pixinguinha. Autor: Sebastião Braga. Editora: Muiraquitã. Ano de publicação: 1995
    Escrita por um jornalista que conviveu com Pixinguinha em seus últimos anos de vida, esta biografia apresenta várias informações e documentos inéditos sobre o compositor.



  • Livro de registros da gravadora Victor
    O livro de registros da gravadora Victor é um documento valioso para o estudo da discografia brasileira em 78 rpm. Descoberto pelo pesquisador Miguel Ângelo de Azevedo, o “Nirez”, o livro traz indicações precisas sobre compositores e instrumentistas que gravaram na Victor entre os anos de 1929 a 1939. Apresenta também o registro de músicas que foram gravadas mas que não chegaram a ser lançadas comercialmente, como é o caso de algumas composições de Pixinguinha indicadas no presente catálogo.



  • Coleção José Silas Xavier
    Um dos maiores especialistas em Pixinguinha na atualidade, o pesquisador José Silas Xavier tem uma grande lista de serviços prestados à música popular brasileira. Produtor dos LPs  “Sarau brasileiro” (Independente, 1979), “Aos mestres com ternura” (FENAB, 1987), “Recordações de um sarau artístico” (Independente, 1984), “Chorando Callado” (Eldorado, 1981), “Ary Barroso – 90 anos” (Transamérica, 1992), entre outros, Silas Xavier vem se dedicando ao estudo da vida e da obra desde o final dos anos 1970. Sua coleção envolve centenas de documentos, partituras, fotos e gravações raras de Pixinguinha.