ELSIE HOUSTON (Elsie Houston-Péret) – Rio de Janeiro RJ – 22/04/1902 – Nova York, EUA – 20/02/1943
Filha de um dentista norte-americano e de uma carioca, estudou canto lírico na Alemanha. Seu contato com o maestro Luciano Gallet a aproximou do universo musical folclórico brasileiro, que logo traria para seu repertório em arranjos eruditos. Este interesse pelas raízes culturais brasileiras se intensificaria ao longo da década de 1920, com a amizade que trava com os modernistas Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Manuel Bandeira, entre outros. Já estabelecida como grande cantora, apresenta-se em Paris em 1927 (em recital com Arthur Rubinstein e Heitor Villa-Lobos), mesmo ano em que começa seu relacionamento com o poeta surrealista francês Benjamin Péret, com quem viverá no Rio de Janeiro entre 1929 e 31, quando retornam para a França. O casamento dura até 37, quando Elsie se muda para Nova York (EUA), onde se sustenta com o ofício que já mantinha em Paris: o de cantora da noite, impressionando a plateia não só por seus dotes vocais, como também pelo repertório originário dos rituais religiosos afro-brasileiros. Tinha 41 anos incompletos quando foi encontrada morta em seu apartamento na Park Avenue, após um “aparente suicídio”, como informou na época a polícia de Nova York.
Escreveu o livro Chants populaires du Brésil (feito por encomenda do Comitê Internacional da Liga das Nações, da Sorbonne, e editado em Paris em 1930) e lançou discos pela Columbia, pela Gramophone, pela Victor brasileira e pela RCA Victor norte-americana – no repertório estão cantigas tradicionais e composições de Villa-Lobos, Jaime Ovalle, Hekel Tavares e Luciano Gallet, entre outros. Gravou também duas composições de Faustino Pedro da Conceição (o Tio Faustino), com acompanhamento da Orquestra dos Batutas, dirigida por Pixinguinha: a marcha Capote do mangô é teu e o samba Vejo a Lua no céu, lançados em 1932, pela Victor.
“Era uma cantora esplêndida. Possuía técnica larga, auxiliada por uma inteligência excepcional em gente do canto”, escreveu Mário de Andrade no obituário que dedicou a ela na Folha da Manhã. “Tão excepcional que Elsie Houston conseguia vencer as vaidades, reconhecer suas pequenas deficiências técnicas e os limites naturais da sua voz. E era um gozo dos mais finos a gente perceber a habilidade com que ela escolhia programas ou disfarçava os escolhos ocorrentes no meio duma canção”. Outro poeta modernista encantado por Elsie Houston é Manuel Bandeira, que em seu livro Flauta de papel (1957) escreve que “a cantora deixou numa pequena coleção de discos um repertório padrão da autêntica maneira de interpretar as canções afro-brasileiras, em que insinuava com exemplar sobriedade um dengue, uma malícia, uma ingenuidade de enfeitiçar”.