ALFREDO DA ROCHA VIANNA – Rio de Janeiro RJ – circa 1864 – Rio de Janeiro RJ – 13/09/1918
Era funcionário da Repartição Geral dos Telégrafos, onde chegou a chefe de seção da usina de eletricidade. Nos momentos de folga, gostava de tocar flauta e promover rodas de choro em sua casa – primeira referência musical de Pixinguinha e dos outros oito filhos que tem com Raimunda Maria da Conceição, entre eles Léo, Henrique e Otávio (China), que também serão músicos. Em depoimento ao Museu da Imagem e do Som, Pixinguinha dirá que o pai “não era grande flautista, mas adorava tocar o instrumento. Naquela época, para mim, ele era o primeiro”.
Já o carteiro Alexandre Gonçalves Pinto (mais conhecido como Animal), em seu livro de memórias O choro: reminiscências dos chorões antigos (1936), dedica um verbete ao velho Alfredo Vianna, descrito no livro como “melodioso flauta” que “tocava de primeira vista, a princípio na sua flauta amarela, de cinco chaves, e ultimamente em uma do novo sistema”. Informa também que deixou “um grande arquivo de músicas antigas e modernas que deve achar-se em poder de seu filho Pixinguinha”, “um filho que sabe honrar a tradição de seu pai no círculo dos chorões”.
O “grande arquivo” a que se refere o Animal são os cadernos de partituras em que Alfredo anotava choros e levava para as rodas a que comparecia (“cadernos cheios de músicas escritas”, como conta Sérgio Cabral, biógrafo de Pixinguinha). Estes cadernos fazem parte do acervo de Pixinguinha, sob a guarda do Instituto Moreira Salles.
Na residência da família (um casarão de oito quartos e quatro salas, no bairro do Catumbi) funcionava a Pensão Vianna, atividade com que Alfredo Vianna e D. Raimunda complementavam o orçamento familiar. Era lá que ele promovia rodas de música em que se reuniam “alguns dos maiores nomes da história do choro, como Irineu de Almeida, Cândido Pereira da Silva (o Candinho Trombone), Neco, Quincas Laranjeira” (como informa Sérgio Cabral em Pixinguinha, vida e obra) e mais “Luís de Souza e o flautista Juca Kallut, além de um eventual Villa-Lobos” (como informa Henrique Cazes, no livro Choro: do quintal ao Municipal). O maestro Villa-Lobos comparecia com o violão, com o qual acompanhava a flauta de Alfredo Vianna.
Já no livro Pixinguinha, filho de Ogum bexiguento, os autores Marília Trindade Barboza e Arthur de Oliveira Filho informam que “na Pensão Vianna havia muita música mas também muita moral. O velho flautista mantinha em casa um grêmio só para mulheres, o Grêmio das Turmalinas, para evitar que as filhas frequentassem o Clube Auri-Verde, sediado também em sua casa, mas destinado apenas aos homens”. Aproximando-se da música em casa, Pixinguinha será encaminhado pelo pai – junto com os irmãos – para ter aulas com um vizinho, o bombardinista César Borges Leitão, que trabalhava com Alfredo Vianna na Repartição Geral dos Telégrafos.
Aos poucos, Alfredo passa a frequentar as rodas acompanhado do filho – que pede ao pai uma requinta, mas este (sem dinheiro suficiente para comprar o instrumento) providencia para o filho uma flauta de folha-de-flandres. Aos poucos, o menino tem aulas com frequentadores da Pensão Vianna, como Mário Cavaquinho e o oficleidista Irineu de Almeida, que logo convidará o menino para integrar seu conjunto, o Choro Carioca. Será com esse conjunto que Pixinguinha fará (em 1911) suas primeiras gravações, já com uma flauta de prata italiana – comprada por seu pai, por 600 mil-réis.
O livro Pixinguinha, filho de Ogum bexiguento contém aspas de uma das irmãs de Pixinguinha, Cristodolina, que diz que “papai não era de bater”, mas era capaz de fazer um “sermão que não acabava mais”, como certa vez, quando Pixinguinha passou a noite fora e, depois, teve que ouvir o pai “caladinho, de cabeça baixa”. Embora contrariado ao ver o filho trocar as aulas no Colégio São Bento pelas rodas de choro e os primeiros trabalhos musicais (aos 14 anos), Alfredo Vianna é, como se vê, um dos principais personagens na iniciação musical do filho.
Já residia na Estrada da Taquara, em Jacarepaguá, quando faleceu, no dia 13 de setembro de 1918, “aos 56 anos, vítima de bronquite asmática”, como informam Marília Trindade Barboza e Arthur de Oliveira Filho. “Uma semana antes, pelas janelas sempre abertas por causa da doença, viu passar o enterro do Barão da Taquara, proprietário da casa onde morava”.
Deixou a valsa Tristezas não pagam dívidas, sua única composição conhecida, graças a Pixinguinha – responsável por anotá-la em partitura. Foi gravada pela primeira vez na caixa de CDs Choro carioca: música do Brasil (Acari Records, 2006), com os flautistas Antônio Rocha e Naomi Kumamoto, mais o acompanhamento de Luciana Rabello (cavaquinho), Mauricio Carrilho (violão de sete cordas), Paulo Aragão (violão) e Pedro Paes (clarinete).